Alegria para os donos e desespero para os cães. Saiba como lidar com os fogos no final de ano
Apesar de apreciarmos o brilho dos foguetes cortando os céus, quem não fica nem um pouco à vontade com as festividades são os cães. Alguns deles ficam desesperados, correndo de um lado para o outro, com medo dos rojões.
Você sabe por que eles se assustam? Será que já nascem com medo? Segundo o especialista em comportamento canino, Ricardo Tamborini, nenhum cão nasce com medo, os desvios comportamentais do pet afloram de acordo com os estímulos que recebe.
O mesmo acontece com a fobia envolvendo fogos de artifício que, na maioria dos casos, é resultado de um comportamento incorreto dos tutores. “É natural que o cão sinta medo do barulho de rojões e o primeiro impulso dos tutores é pegá-lo no colo para protegê-lo. Porém, o animal entende isso como uma recompensa por sentir medo e terá o mesmo comportamento sempre que ouvir os ruídos”, explica o especialista.
Desde filhote, o cachorro deve entender que o barulho dos fogos não representa perigo e é algo passageiro. Caso o tutor não condicione o animal da maneira correta, ele pode desenvolver a fobia e o medo pode resultar em outros problemas, como estresse, insegurança, agressividade e depressão. “Corrigir um animal adulto, que já desenvolveu um trauma, é muito mais difícil e, em alguns casos, irreversível. Por isso, o indicado é iniciar o processo de adaptação no primeiro ano de vida do animal”, alerta Tamborini.
Criando cães destemidos
Para o especialista, a única maneira de evitar que o animal desenvolva fobia de fogos de artifício é condicioná-lo, desde filhote, a encarar o ruído como algo inofensivo. “O segredo é não dar colo e carinho para o animal, não o recompensando durante a queima. Por mais que ele chore, quando o barulho cessar ele irá perceber que nada de mal aconteceu e, da próxima vez, irá encarar o acontecimento com mais naturalidade”, aconselha.
Outra dica de Tamborini é fazer a associação do barulho a algo bom, como petiscos, brinquedos e brincadeiras. “O tutor deve fazer isso apenas quando notar que o cão está bem e, principalmente, sem demonstrar receio algum da situação que o incomoda”, completa.
O cão já tem medo. E agora?
Dependendo do grau desse medo, o tutor deverá recorrer ao auxílio de um especialista em comportamento canino. Há cães que se machucam gravemente, querendo ultrapassar portões ou paredes. Nesses casos mais extremos, o trauma já está muito enraizado no animal. Daí a importância de contar com a ajuda de alguém que faça um diagnóstico correto e oriente os donos de como revertê-lo.
O processo de adaptação e dessensibilização deve ser gradativo, agradável e, principalmente, sem forçar o animal. “É errado forçar um animal que já apresenta esse medo a ver fogos ou situações que são desagradáveis a ele. O ideal é trabalhar isso no decorrer do ano. Isso leva tempo e varia de acordo com o nível da fobia de cada animal”, esclarece o especialista.
Para que os tutores saibam como lidar melhor com o problema, seguem algumas dicas relacionadas a cães que já têm fobia de fogos de artifício:
1) Deixar um animal que tem medo de fogos sozinho em casa não é uma boa opção. Devido ao medo, ele pode se machucar seriamente, por querer fugir da situação que o está incomodando. O ideal é recorrer a um hotel de cães que tenha uma equipe preparada para dar suporte aos animais na noite da virada de ano.
2) Se você estiver em um lugar estranho, como na casa de amigos ou viajando, proporcione um ambiente seguro para o animal. Deixe-o, de preferência, em um local silencioso, longe de pessoas e outros cães. Em situações de medo, o cão procura abrigo em algum local escuro e tranquilo. Isso acontece porque, diferente dos humanos, os cães naturalmente sentem-se seguros em locais com essas características.
3) Outra alternativa é abrigá-lo em uma caixa de transporte de tamanho adequado, cobrindo essa caixa com algum tecido escuro, ou colocá-lo em um quarto escuro.
4) Uma técnica que tem sido muito difundida é a de enrolar uma faixa ou tecido no corpo do animal, em pontos estratégicos, para que a circulação sanguínea das regiões extremas do corpo seja estimulada, amenizando as tensões localizadas no dorso do animal e diminuindo a sua irritabilidade. O grande problema é que essa técnica tem sido difundida como “a solução”, mas na realidade ela só funciona em alguns casos. Em geral, cães já em nível de pânico não terão qualquer tipo de reação. O que pode ocorrer, se não houver supervisão, é o cão rasgar as faixas a fim de retirá-las ou até mesmo irritar-se ainda mais.
Mitos
Ricardo Tamborini também desmitifica alguns mitos, entre eles, deixar uma luz acesa, a TV ligada ou colocar algodão no ouvido do pet quando ele estiver sozinho. “Os cães sentem-se mais seguros em locais pouco iluminados e silenciosos. Já o algodão é um objeto estranho que causa ainda mais desconforto ao animal”, explica.
Usar florais ou medicamentos para tranquilizar ou sedar animais com medo é outro truque que não funciona. “Isso é um paliativo. Pode até aparentar uma pequena melhora, mas quando falamos em medo, abordamos especificamente a questão psicológica, então esses métodos e truques citados acima podem até ajudar, mas não são capazes de resolver o problema”, conclui o especialista.
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